Brasil, Irã e o Urânio: o jogo começou bem antes de 2010

Em 17/05/2010, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou um acordo nuclear com Irã e Turquia que surpreendeu o mundo. O tratado previa a troca de urânio levemente enriquecido do Irã por material mais concentrado da Rússia ou França, com intermediação turca, e foi firmado em Teerã sob os olhos desconfiados dos Estados Unidos. O gesto diplomático não surgiu do nada: era parte de uma articulação que já vinha sendo costurada nos bastidores desde 2006, com apoio silencioso de governos aliados do chamado eixo do Foro de São Paulo.

O Irã começou a despertar preocupação internacional em 2006, quando a AIEA encontrou vestígios de urânio altamente enriquecido e plutônio em suas instalações. O regime de Teerã, sob Mahmoud Ahmadinejad, resistiu a inspeções e rejeitou sanções da ONU, aumentando o tom contra o Ocidente. Enquanto isso, o Brasil se aproximava do país persa em nome de uma suposta "diplomacia da paz", que na prática legitimava o programa nuclear iraniano sob o manto do uso civil da energia.

Entre 2007 e 2009, o Irã continuou expandindo suas centrífugas e desafiando as resoluções da ONU. Foi nesse contexto que Lula passou a costurar, com apoio da Turquia, um acordo que pudesse mostrar o Brasil como mediador global. Em 2010, a proposta de troca de urânio foi firmada, e o senador petista Eduardo Suplicy chegou a declarar no Senado que Lula havia “marcado um gol histórico nas relações exteriores”. O mesmo Lula também celebrou a libertação de uma professora francesa presa por espionagem no Irã, como se fosse resultado direto de sua articulação.

O que os Estados Unidos viram como um desvio das diretrizes internacionais de segurança, o governo brasileiro tratou como vitória. A ONU considerou o acordo “encorajador”, mas Washington e Berlim reagiram com frieza. Para os norte-americanos, Lula agiu de forma cínica, ajudando o Irã a ganhar tempo e legitimidade internacional, sem entregar garantias reais de que o programa nuclear não teria fins bélicos. O acordo acabou servindo mais para a propaganda política do que para a contenção de ameaças.

A relação com o urânio, porém, não ficou no passado. Em 2024, o Brasil voltou a entrar no radar internacional ao permitir que empresas ligadas à China comprassem grandes extensões de terra em áreas com presença de urânio. A informação acendeu um alerta em setores conservadores que acompanham os movimentos da geopolítica nuclear. A aproximação com potências não alinhadas ao Ocidente mostra que há um padrão histórico no uso do Brasil como peça auxiliar nas ambições do eixo China-Irã.

A atuação brasileira, com apoio de governos alinhados ao Foro de São Paulo, segue um roteiro conhecido: desafiar os interesses dos Estados Unidos, apoiar regimes autoritários e se apresentar como intermediador neutro, mesmo quando há interesses ideológicos claros. A política externa do lulismo nunca foi apenas diplomática — ela é instrumental e alinhada com forças globais que desejam enfraquecer a influência norte-americana.

O Brasil não começou a “brincar de urânio” com o Irã ontem. O que parece novidade é, na verdade, continuidade de uma agenda construída ao longo de décadas por governos alinhados à esquerda internacional. A cobertura crítica desses movimentos se faz cada vez mais urgente, especialmente quando o país volta a se aproximar de regimes opacos, enquanto ignora os alertas das democracias ocidentais.

Cronograma: Enriquecimento de Urânio no Irã, o Papel do Brasil e da Turquia, e Impasses com os EUA (2006-2010)


2006

Novembro 2006

  • A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) divulga relatório confidencial indicando a existência de resíduos de urânio altamente enriquecido e plutônio no Irã.
  • O Irã anuncia plano para instalar 60 mil centrífugas para enriquecimento de urânio, desafiando acusações ocidentais de que busca armas nucleares.
  • A AIEA afirma que não pode garantir que o programa iraniano seja pacífico, devido à obstrução nas inspeções.
  • Os Estados Unidos e aliados pressionam o Conselho de Segurança da ONU para impor sanções contra o Irã, que se recusa a interromper o enriquecimento.


2007-2009

Diplomacia internacional e sanções

  • O Irã continua a expandir seu programa nuclear e a instalar centrífugas.
  • O Conselho de Segurança da ONU aprova várias resoluções com sanções econômicas e diplomáticas contra o Irã.
  • Os EUA mantêm postura rígida, temendo que o programa nuclear seja usado para fins militares.
  • A Turquia e o Brasil começam a ganhar destaque na diplomacia Sul-Sul como atores que buscam soluções negociadas para a crise.


2010

Abril/Maio 2010 - Acordo Tripartite Brasil-Turquia-Irã

  • Brasil e Turquia atuam como mediadores para uma proposta de acordo nuclear com o Irã.
  • O acordo prevê que o Irã envie 1.200 kg de urânio enriquecido a 3,5% para a Turquia, que ficaria responsável pelo seu armazenamento e enriquecimento adicional. Em troca, a Turquia forneceria ao Irã urânio enriquecido a 20%, produzido pela Rússia ou França, para uso em reatores.
  • A intenção era aumentar a transparência do programa iraniano e evitar o uso militar do urânio, criando confiança internacional.

17 de maio de 2010 - Reação do Brasil

  • O senador Eduardo Suplicy (PT) comemora o acordo em plenário, elogiando o presidente Lula e o ministro Celso Amorim pela atuação diplomática.
  • Suplicy destaca o acordo como um passo importante para a paz no Oriente Médio, evitando conflitos armados semelhantes ao Iraque.
  • Ele também destaca a libertação da professora francesa Florence Reiss, atribuída a negociações diplomáticas lideradas pelo Brasil.

Reação internacional

  • A ONU vê o acordo como encorajador.
  • Os Estados Unidos e Alemanha manifestam preocupação, duvidando da efetividade do acordo para impedir a proliferação nuclear iraniana.
  • Os EUA mantêm sua pressão por sanções mais duras e não reconhecem oficialmente o acordo como suficiente para garantir a paz.


Motivações e Impasses

Motivações do Brasil e Turquia

  • Atuar como mediadores independentes para evitar uma guerra no Oriente Médio, especialmente depois da invasão do Iraque em 2003.
  • Ganhar protagonismo diplomático global e fortalecer a imagem do Brasil como ator de paz e liderança em negociações internacionais.
  • Defender o direito do Irã ao uso pacífico da energia nuclear, conforme tratado da não proliferação.
  • Promover o diálogo e evitar confrontos que poderiam desestabilizar a região.

Motivações do Irã

  • Desenvolver tecnologia nuclear para fins energéticos, dada a crescente demanda energética do país.
  • Assegurar autonomia tecnológica e estratégica.
  • Reforçar sua posição geopolítica na região, frente a pressões externas.

Impasses com os Estados Unidos

  • Desconfiança em relação às reais intenções do Irã, temendo uso militar do programa.
  • Ceticismo sobre a eficácia do acordo Brasil-Turquia-Irã, visto como insuficiente para garantir a não proliferação.
  • Preferência por medidas mais duras, incluindo sanções e possível ação militar.
  • Divergência quanto ao papel do Brasil e Turquia, vistos como países menos alinhados à política ocidental.
Fonte: Wayback Machine (para sites apagados)

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