Frei Chico, o Sindicato dos Aposentados e o Esquema Bilionário de Descontos no INSS

Nos últimos anos, a atuação do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos da Força Sindical (Sindnapi) levantou sérias suspeitas de irregularidades financeiras em larga escala. No centro das atenções está José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão mais velho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e atual vice-presidente da entidade. Embora não seja diretamente investigado na Operação Sem Desconto, sua ligação com o sindicato e seu histórico de militância política acenderam o alerta público.

Frei Chico tem 83 anos e uma longa trajetória no sindicalismo brasileiro. Foi ele quem apresentou Lula ao movimento sindical ainda nos anos 1960, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Durante a ditadura militar, atuou clandestinamente pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), sendo preso e torturado em 1975. Com o passar das décadas, manteve-se ligado à política sindical, tendo hoje um cargo de destaque no Sindnapi.

Entre 2019 e 2023, o Sindnapi registrou um crescimento expressivo em suas receitas provenientes de descontos em benefícios do INSS: passou de R$ 17,6 milhões para R$ 90,5 milhões — um aumento de 414%, segundo dados da Polícia Federal. A justificativa oficial do sindicato foi o aumento no número de associados durante a pandemia. No entanto, a Operação Sem Desconto, deflagrada pela PF e pela CGU, investiga se milhões de aposentados foram filiados ao sindicato sem consentimento.

A investigação descobriu que a filiação ao Sindnapi estava sendo imposta a aposentados durante a contratação de empréstimos consignados em agências do Banco BMG. Muitos só perceberam os descontos nos extratos do INSS meses depois, sem jamais terem solicitado associação sindical. O esquema burlava até mesmo a exigência de biometria facial, facilitando os débitos indevidos.

O número de beneficiários afetados pode chegar a 9 milhões, com prejuízo estimado em R$ 8 bilhões. A manobra era simples: camuflava-se a contribuição sindical como se fosse obrigatória ou parte do contrato de empréstimo. Os descontos, autorizados ou não, iam direto para os cofres do sindicato — que tem Frei Chico como vice-presidente.

O escândalo levou o governo federal a exonerar diretores do INSS, suspender a concessão de novos empréstimos consignados e instituir um grupo especial na Advocacia-Geral da União para recuperar os valores desviados.

Frei Chico, em entrevista, disse estar tranquilo e que o sindicato “já foi auditado”, embora o Sindnapi seja um dos alvos centrais da operação. A Polícia Federal ainda não apresentou denúncia formal contra ele, mas as investigações seguem em curso.

Embora não haja, até o momento, uma acusação direta contra Frei Chico, é impossível ignorar a coincidência entre sua liderança no Sindnapi e a expansão da arrecadação indevida da entidade. Sua longa trajetória sindical e sua proximidade com o poder político acentuam os questionamentos sobre até que ponto o Sindnapi operava sob sua influência direta — e quantos bilhões podem ter sido desviados dos aposentados mais vulneráveis do país.

Este caso revela mais do que um escândalo financeiro: expõe a fragilidade dos controles públicos e a urgência de blindar os idosos de práticas abusivas, especialmente quando orquestradas por quem deveria protegê-los.

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