Muito se fala sobre a mais-valia como se fosse uma verdade inquestionável da economia. Desde Marx, esse conceito tem sido repetido como um dogma: a ideia de que "todo lucro obtido por um empregador advém da exploração direta da força de trabalho do empregado". No entanto, essa concepção, longe de ser um princípio científico ou universal, revela-se uma construção ideológica altamente questionável, de aplicação limitada, enviesada e desonesta.
A primeira falha estrutural da teoria da mais-valia está em sua pretensão de universalidade.Não é um conceito que pode ser aplicado de maneira universal. Nem toda relação empregatícia se dá nos moldes descritos por Marx. Não se pode aplicar a mesma régua a uma grande corporação multinacional e a um pequeno comerciante de bairro com um funcionário contratado. Muitos empregadores, sobretudo os pequenos e médios, enfrentam dificuldades, riscos e jornadas de trabalho mais extensas do que seus colaboradores. Em muitos casos, o suposto “explorador” é aquele que assume dívidas, trabalha finais de semana, não tem garantias e depende inteiramente do seu próprio esforço para manter o negócio e os empregos. A ideia de que todo patrão lucra à custa do trabalhador é uma simplificação grosseira da realidade e serve mais para alimentar ressentimentos do que para descrever qualquer dinâmica concreta.
Além disso, a teoria da mais-valia não se sustenta do ponto de vista lógico. Ela não é apodítica — ou seja, não é evidente por si mesma nem irrefutável — e se apoia em premissas ideológicas, não empíricas. O argumento se sustenta dentro de um circuito fechado de pressupostos marxistas, onde o lucro é sempre visto como apropriação indevida. Tal estrutura argumentativa resulta em um raciocínio circular: parte-se do postulado de que o capitalista é explorador, e toda a teoria é construída apenas para justificar esse juízo inicial. A realidade dos processos produtivos, os riscos do empreendedorismo, as inovações, o capital intelectual e a livre negociação entre as partes são ignorados para que se possa sustentar uma conclusão já previamente desejada.
O conceito também falha por ser extremamente contingente. Ele só “funciona” dentro de contextos ideológicos específicos, grande parte da fundamentação gira em torno do patrão "burguês" e o operario "proletário"e só cabe nesse contexto. Geralmente discutida em ambientes acadêmicos que são campos de doutrinação ou discursos políticos voltados à mobilização de massas contra a chamada "classe burguesa". Fora desses contextos, a teoria não se sustenta diante da pluralidade das relações econômicas. A mais-valia não serve como base jurídica para nada, não é mensurável com precisão objetiva, não é passível de comprovação forense e tampouco possui estrutura semântica clara o suficiente para ser aplicada em políticas públicas. Ela existe apenas como instrumento retórico: um artifício criado para imputar culpa e estigmatizar uma classe econômica específica, fomentando antagonismo e ressentimento. Se é premissa contigente, logo é premissa problemática e que produz conclusões problemáticas (regra de lógica).
Esse uso ideológico faz com que todas as premissas da teoria sejam contenciosas. Não há consenso lógico nem empírico sobre elas. Se partimos de pressupostos ideológicos, qualquer conclusão obtida será inevitavelmente questionável. A retórica marxista, nesse ponto, transforma-se em um discurso sofístico: não busca descrever o real, mas construir uma narrativa útil à militância política. Isso não é ciência; é ideologia travestida de ciência.
Aristóteles define o sofismo no Livro VIII de Tópicos, entre outras passagens como como também em Argumentos Sofísticos, que é : inferência (ou conclusão lógica) a partir de premissas contenciosas. Parece que é o que temos aqui, em Karl Marx (e a palavra "parece", usada aqui, com conotação retórica somente).
A fragilidade do conceito se revela até na análise da linguagem. A mais-valia não possui estrutura conceitual completa dentro da lógica dos signos. Não é um sujeito abstrato, como "exploração", que pode ser tipificado, combatido, medido e até criminalizado. A mais-valia tampouco possui forma coordenada ou derivada que a torne um instrumento analítico autônomo. Não há um “mais-valista”, nem uma ação feita “maisvalicamente”. Não há uma adjetivação, nem desdobramentos gramaticais naturais. Isso demonstra que não estamos diante de um conceito filosófico sólido, mas de uma expressão retórica artificial, criada com o único propósito de sustentar uma visão de mundo baseada em antagonismos coletivos.
Ao contrário, a “exploração” é um conceito que pode ser universalizado, juridicamente aplicado e empiricamente demonstrado. Pode-se combater a exploração com leis, direitos, inspeções e sanções. Já a mais-valia, sendo apenas um pretexto narrativo, não serve para aplicação prática, mas sim para agitação política. É uma ideia criada para inflamar o conflito entre patrões e empregados, não para resolver qualquer problema real.
A insistência na mais-valia como verdade absoluta apenas reforça o caráter doutrinário da teoria marxista. Em vez de promover entendimento ou justiça, ela reduz a complexidade da vida econômica a um embate maniqueísta, onde há um vilão definido — o empreendedor — e uma vítima pronta — o trabalhador. Nesse teatro ideológico, o conceito de mais-valia funciona apenas como pano de fundo para uma peça de propaganda. Desmistificar esse artifício é essencial para que possamos recuperar a racionalidade no debate econômico e abandonar as narrativas que apenas perpetuam divisionismos e paralisam o desenvolvimento social.
Veja o infográfico com um paralelismo entre o conceito de "exploração", que existe, e o conceito marxista de "mais valia", que não passa de pré-texto ideológico para perseguir uma classe:
Postar um comentário